Enquanto você lê esta matéria, um ‘exército mirim’ de trabalhadores se arrisca em lixões, plantações, fábricas clandestinas e construções. Nas ruas e no campo, pequenos trabalhadores informais são explorados sexualmente e pelo narcotráfico. Dados do Ministério da Saúde, do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) revelam um quadro preocupante: nos últimos 10 anos (de 2007 a 2016), pelo menos 1.899 crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos foram vítimas de acidentes graves de trabalho na Paraíba.
Elas se cortam ou se contaminam catando lixo, carregando peso em pequenas obras ou são intoxicadas com agrotóxicos, restos de comida e outros produtos químicos usados na fabricação de detergentes, por exemplo.
Essa realidade não se restringe à Paraíba. Em todo o País, foram registrados pelo Sinan (de 2007 a 2015) 20.770 casos graves de acidentes de trabalho envolvendo crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos, com 187 mortes e 518 vítimas de amputação de mão.
Alto risco
A OIT (Organização Internacional do Trabalho) estima que 14,4% dos trabalhadores que atuam em atividades de alto risco no Brasil têm idades entre 15 e 17 anos.
Tudo isso motivou o lançamento de uma campanha nacional pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), intitulada #Chegadetrabalhoinfantil.
Partindo inicialmente de Campinas (SP), a ação conta com o apoio de personalidades da música e dos esportes (os cantores sertanejos Daniel, Chitãozinho e Xororó, o ex-jogador de vôlei Maurício Lima e a ex-jogadora de basquete Hortência Marcari). Mas, agora já ganha a adesão de pessoas em todo o País.
A diretora-geral do Centro de Referência Estadual de Saúde do Trabalhador (Cerest-PB), Celeida Barros, disse que o número de acidentes envolvendo crianças e adolescentes em atividades laborais vem aumentando ano a ano e muitos acidentes não são registrados.
“Ainda existe a subnotificação. Como o trabalho infantil é ilegal, os próprios pais, responsáveis ou quem leva a criança ao hospital, não dizem que foi acidente de trabalho”, ressaltou.
Fatores de aumento
Para ela, os acidentes de trabalho com crianças vêm aumentando principalmente por dois fatores. “Primeiro, houve o ‘Pacto pelo Desenvolvimento’, que fez aumentar a demanda por mão de obra na construção civil. Isso não ocorre em firmas grandes, mas em obras menores, totalmente dentro da informalidade. O segundo fator é a questão da crise econômica. Além disso, a criança adoece mais e se acidenta muito mais fácil porque é frágil, ainda está com o corpo em formação e não tem treinamento nenhum”, comentou.
A Campanha
Voltada para o ambiente online, a campanha busca o engajamento dos internautas nas redes sociais, incentivando-os a postar o gesto da “hashtag” em seus perfis como forma de apoio à causa contra o trabalho irregular de crianças e adolescentes.
A campanha, apoiada pela Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho de Crianças e Adolescentes (Coordinfância), foi desenvolvida pela agência Bretas Comunicação/B52 com o uso de verbas oriundas de acordos firmados com empresas do interior e da Grande São Paulo. Os artistas e esportistas que participam da iniciativa não cobraram cachê.
Fonte: MPT-PB